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‎27 de Maio: Memórias de um Inferno Silenciado

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Por Fernando Vumby 

‎O dia 27 de Maio de 1977 permanece como uma ferida aberta na história de Angola. Para quem viveu aqueles tempos de repressão e violência, a data não é apenas um marco político, mas um símbolo de sofrimento e perdas irreparáveis. 

‎Entre os muitos prisioneiros que passaram pelas celas do S. Paulo, estavam jovens idealistas, estudantes e militantes que apenas desejavam um país melhor. As detenções eram sumárias, sem justificativas, conduzidas por agentes que, muitas vezes, prendiam amigos e conhecidos sem ordem judicial.

‎Um desses detidos fui eu, capturado no dia 31 de Maio por um colega, Damião, algemado a sair do musseque e a se instalar em um apartamento na Vila Alice. Ironia do destino – aquele que eu tinha apoiado tornou-se meu algoz, seguindo ordens de um sistema implacável.

Quando adentrei a prisão, os olhos de Any, também levada naquele dia, encontraram os meus em um instante breve, mas carregado de dor. Não houve palavras, apenas olhares angustiantes que se cruzaram entre coronhadas e pontapés.

Dentro das celas, a realidade era aterrorizante

O cheiro de sangue impregnava o ar, os gritos dos prisioneiros ecoavam pelos corredores, e o medo se tornava uma presença constante. Muitos estavam ali há meses ou anos, como os membros da Revolta Ativa e do grupo CAC, que resistiam contra a opressão do regime.

‎Hoje, ao relembrar aquele período sombrio, pergunto-me: quantos sonhos foram destruídos? Quantas vidas foram ceifadas sem qualquer julgamento justo? A história deve ser contada, pois o esquecimento é uma nova forma de injustiça.

‎A luta pela verdade e pelo reconhecimento dos que pereceram em maio de 1977 continua. Que este relato seja uma peça nesse grande quebra-cabeça de memória e justiça.

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