LUANDA (O SECRETO) – O recente reconhecimento formal dos três signatários do Acordo de Alvor como figuras centrais na conquista da independência de Angola Jonas, Savimbi, Holden Roberto e António Agostinho Neto, marcou um ponto de viragem simbólico, mas também expôs profundas divergências quanto à forma como o país revisita o seu passado. As reacções dos líderes dos três principais partidos da oposição, UNITA, FNLA e CASA-CE, revelaram um sentimento comum de justiça tardia, ainda que por caminhos distintos.
Para o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, o reconhecimento chegou envolto numa narrativa que fere a memória dos que lutaram pela libertação nacional. “Estas vidas dedicadas nunca serão reconhecidas pelo perdão, como foi aqui dito. É pelo mérito da sua entrega, é pelo mérito da sua luta. Nunca será pelo perdão”, afirmou com firmeza, criticando a linguagem usada pelo executivo ao justificar a condecoração póstuma. O líder da oposição recordou que a própria resistência do seu partido em aceitar medalhas e honrarias anteriores contribuiu para que o reconhecimento actual acontecesse. “Foi graças à nossa postura, às nossas recusas da medalha, à nossa pressão permanente, que ainda assim foi preciso dizer ‘perdão aos pais’ para reconhecê-los. Não havia necessidade”, declarou, apontando o que considera ser uma incoerência da bancada do MPLA, que aplaudiu agora o que no passado rejeitou. A UNITA, reforçou, não aplaudiu — não por desrespeito, mas por discordância com o caminho percorrido.
Nimi a Simbi, presidente da FNLA, “cada coisa tem o seu tempo, talvez tenha chegado agora”, disse, numa declaração que procurou equilibrar crítica e aceitação, para actual líder do partido fundado por Holden Roberto, o momento representa um justo tributo ao papel decisivo da FNLA na libertação nacional. Acredito que mas vale acontecer agora, este é o reconhecimento da contribuição que a FNLA deu para a libertação de Angola”, afirmou, num tom mais reconciliador, mas não menos crítico quanto à demora.
Por outro lado, o presidente da CASA-CE, Manuel Fernandes, destacou o significado político e emocional da condecoração, sobretudo no que toca à figura de Jonas Savimbi, por décadas ausente da narrativa oficial. “Jonas Savimbi e Holden Roberto contribuíram para a nossa determinação, lutaram e por isso também foram consignatários dos acordos com a potência colonizadora”, sublinhou. Para Fernandes, o gesto do Presidente da República coloca fim a um sentimento de frustração generalizado. “O seu reconhecimento é o terminar de uma certa frustração de muitos atores. É o acabar de um irritante que efectivamente a maculava aquilo que é a intenção positiva deste mesmo exercício: transformar o 11 de Novembro numa verdadeira festa da Unidade Nacional, numa verdadeira festa da Reconciliação Nacional.”