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Casa da Juventude em Viana acolhe debate promovido pelo MEA sobre os desafios e esperanças da juventude angolana

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Num clima de profunda reflexão crítica, o Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) organizou na última sexta-feira, 05 de Setembro, na Casa da Juventude em Viana, um debate marcante com o tema “Juventude em Angola, do sonho ao desespero”. 

O encontro reuniu três vozes influentes da intelectualidade nacional: o filósofo e professor Albino Pakissi, o jurista e jornalista William Tonet, e o sociólogo e docente universitário Pedro Castro.

Perante uma plateia composta maioritariamente por jovens estudantes, os oradores partilharam análises incisivas sobre o estado actual da nação, o papel da juventude na transformação do país e os caminhos possíveis para superar a crise social e económica que afecta as novas gerações.

“A democracia nunca chega sem luta”

Albino Pakissi, filósofo e docente universitário, foi directo ao afirmar que “a democracia e a liberdade nunca chegaram sem luta”. Para Pakissi, o momento que Angola atravessa exige uma revolução intelectual baseada na capacitação e na consciência crítica:

“Se o partido que governa não libertar as instituições do Estado, será empurrado para a parede. Podemos assistir a um cenário semelhante ao de Moçambique aqui em Angola”, alertou, em referência à insatisfação crescente entre os jovens e os riscos de convulsões sociais.

Segundo Pakissi, há uma elite no poder que “não sente a fome do povo”, vivendo numa bolha de privilégio e alienação social. “Quem come bem, não vê. É por isso que muitos dirigentes não reconhecem o sofrimento real da população”, apontou.

 William Tonet: “Nós somos um projecto de revolução, não de comércio”

O jurista e jornalista William Tonet, conhecido pela sua veia crítica, reafirmou o papel da imprensa livre e da juventude como motores da resistência democrática:

“A repressão às manifestações deve-se ao facto de que os dirigentes não leem, ou se leem, não entendem a Constituição. Nunca chegaram ao artigo 47º”, ironizou, referindo-se ao direito de manifestação garantido pela Lei Magna.

Tonet defendeu que a juventude precisa conhecer profundamente as leis e lutar com conhecimento, e não apenas com indignação. Relembrou ainda que, mesmo sob perseguição, continua a fazer jornalismo independente: “O Folha 8 não é um projecto comercial, é um projecto de revolução.”

 Pedro Castro: “Se foi construído, pode ser desconstruído”

Com uma abordagem sociológica, Pedro Castro, professor universitário, reforçou que a pobreza e o conformismo são muitas vezes impostos culturalmente, mas não são destinos imutáveis:

“Aquilo que é construído culturalmente pode ser desconstruído. E é por isso que a revolução intelectual e a leitura são fundamentais”, disse, incentivando os jovens a não aceitarem a pobreza como herança ou condenação.

Pedro Castro também criticou a banalização da licenciatura em Angola, defendendo que “um licenciado capacitado não fica desempregado”, desde que invista na sua formação contínua e abra caminho com mérito.

“A juventude é quem vai mudar Angola”

Apesar do tom por vezes crítico e pessimista, o encontro terminou com uma nota de esperança. Tanto Pakissi, como Tonet e Castro, reiteraram que a transformação de Angola depende da juventude, que deve recusar o papel de mera espectadora e assumir protagonismo na reconstrução do país.

“Dentro de 5 a 10 anos, serão os jovens de hoje a decidir quem vai governar Angola”, destacou Pakissi.

Um apelo à acção

Mais do que uma troca de ideias, o debate organizado pelo MEA foi um verdadeiro apelo à acção, à consciência cívica e ao empoderamento intelectual da juventude angolana. Os participantes saíram do evento desafiados a reflectir, a estudar e a agir.

Porque, como lembrou William Tonet, “a verdadeira revolução começa na mente”.

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