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Comunicação Social Pública pode causar a morte da Democracia em Angola

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LUANDA (O SECRETO) – “Se a oposição não fala nos grandes meios públicos, se não é analisada, se não é ouvida, como é que a democracia pode ser mais do que uma formalidade”? Pergunta de Reginaldo Silva, no programa “A Voz do Jornalista”, por não ter repercussão a ida do líder da UNITA ao palácio presidencial nas mídias do estado, alerta ainda o recou democrático que se vive no país, em função do papel actual da comunicação social pública em Angola.

O jornalista e membro da Entidade Reguladora da Comunicação de Angola, ERCA, e com décadas de experiência em um olhar crítico aguçado, volta a expor as falhas estruturais de um sistema mediático que continua a operar sob lógicas do monopólio político, mesmo num contexto multipartidário.

O foco de sua análise foi o encontro entre o Presidente da República, João Lourenço, e o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, um facto político de elevada importância, que para o Jornalista, foi maltratado pela imprensa pública, reduzido a uma breve nota de rodapé no noticiário, ignorado por analistas, excluído dos painéis e, sobretudo, desprovido de análise crítica.

“O acontecimento do dia passou praticamente em branco, e não porque não existia matéria para debate, existia e muita, mas porque ainda existe uma cultura editorial que trata a oposição como se fosse um incómodo.”

Reginaldo Silva, considera ser uma prática contínua de silenciamento da oposição pelos meios públicos, especialmente televisão e rádio, em que “ a TPA nunca entrevistou Adalberto Costa Júnior numa conversa séria, de fundo, aZimbo também não,  o profissional avança ainda, e quando o líder da oposição aparece, é em soundbites, flash interviews, peças editadas de trinta segundos, isto não é jornalismo, é encenação”, criticou.

A ausência de entrevistas aprofundadas com figuras centrais da oposição não é apenas um detalhe técnico, para Reginaldo, trata-se de um sintoma de uma imprensa subserviente, incapaz de cumprir o papel de mediadora entre os poderes e o povo.

“Não é só uma questão de pluralidade é uma questão de legitimidade democrática, e como é que se constrói uma democracia sólida quando metade do país não vê suas lideranças representadas na imprensa pública?” Perguntou.

A cobertura selectiva como instrumento político

Outro ponto crítico levantado por Reginaldo Silva é a discrepância na cobertura de eventos políticos. Enquanto as ações do governo recebem holofotes, análises e tempo de antena generoso, iniciativas da oposição são rotineiramente ignoradas ou abordadas com superficialidade.

“Quando é o governo, temos mesas redondas, painéis, comentadores para todos os gostos, quando é a oposição, nem sequer um debate, isso não é só ausência de equilíbrio é uma estratégia de apagamento”.

Essa seletividade editorial, segundo ele, contribui para um ambiente mediático distorcido, onde a opinião pública é moldada por uma narrativa oficialista, e qualquer voz dissonante é marginalizada ou caricaturada.

O papel da imprensa pública na instabilidade política

Por outro lado, Reginaldo Silva, associou também essas falhsa mediáticas a uma das principais tensões da vida política angolana; a instabilidade e a desconfiança institucional, para o Jornalista, “a falta de representação justa da oposição contribui para o sentimento de exclusão, que se traduz em protestos, manifestações e, por vezes, episódios de violência.

“Temos visto vigílias e manifestações da UNITA terminarem mal, quando a oposição tenta falar, mas não tem canais, e quando tenta gritar, criminalizam, e quando a imprensa não dá espaço ao diálogo, o país perde a sua válvula de escape institucional”, disse.

Adianta ainda que, a responsabilidade da comunicação social pública vai além do acto de reportar factos, ela deve também construir pontes entre as diferentes visões do país, permitindo que o eleitorado compreenda, critique, escolha e confie.

Uma imprensa sem liberdade real é um teatro de democracia

A crítica mais contundente de Reginaldo, porém, foi reservada ao papel da própria liberdade de imprensa, onde a censura hoje já não se manifesta com ordens explícitas, mas com critérios editoriais enviesados que se escondem atrás da autonomia formal dos órgãos.

“Ninguém vai dizer ‘não entrevistem Adalberto’, mas ele nunca é entrevistado, ninguém vai dizer ‘não analisem o encontro com o Presidente’, mas ninguém analisa, essa censura invisível é a mais perigosa, porque nos faz crer que estamos numa democracia, quando, na verdade, estamos num simulacro”, lamentou.

O membro da ERCA, desafia ainda os jornalistas e directores de informação a romper com essa lógica, “se não há ordens superiores, então a responsabilidade é vossa; o que estão a fazer com ela?”

Reginaldo Silva sublinha ainda que, o encontro entre João Lourenço e Adalberto Costa Júnior poderia ter sido um símbolo de amadurecimento político, mas, conforme, foi transformado em mais uma oportunidade desperdiçada pela comunicação social pública de mostrar que serve a todos os angolanos, e não apenas aos que estão no poder.

Para o antigo Jornalista da Rádio Nacional de Angola, o país precisa ainda lutar pela liberdade de imprensa como alicerce da democracia, e pela construção de uma cultura mediática que reflita a pluralidade real da sociedade angolana,

No entanto, o silêncio editorial é tão político quanto qualquer discurso e, no caso angolano, ele fala alto sobre quem pode e quem não pode existir no espaço público, enquanto a democracia grita quando a imprensa silencia, e este grito, mais do que nunca, precisa ser ouvido.

 

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