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Expulsão da RTP em Angola levanta dúvidas sobre liberdade de imprensa e relações diplomáticas

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“Jornalistas da televisão pública portuguesa foram retirados de forma selectiva da cobertura na Presidência angolana, provocando indignação entre profissionais, sindicatos e observadores internacionais”.

LUANDA (O SECRETO) – o recente episódio de expulsão da equipa da RTP, Rádio e Televisão de Portugal, da cobertura de um encontro político de alto nível na Presidência da República de Angola tornou-se motivo de forte controvérsia e preocupação no seio da imprensa, da sociedade civil e de diplomatas que acompanham de perto a evolução política no país.

O incidente é visto não apenas como um caso isolado de censura, mas como um reflexo de um ambiente cada vez mais hostil ao exercício do jornalismo livre e plural.

A equipa da RTP, devidamente credenciada, havia sido destacada para cobrir o encontro entre o Presidente João Lourenço e o líder da oposição Adalberto Costa Júnior, da UNITA, um momento político de grande relevância no actual cenário angolano, numa acção considerada discriminatória, os jornalistas da emissora portuguesa foram removidos da sala de imprensa, enquanto representantes de outros órgãos de comunicação puderam permanecer e realizar normalmente o seu trabalho.

A direcção da RTP manifestou, em nota pública, “profunda preocupação e veemente repúdio” ao que classificou como um “acto selectivo e discriminatório”, afirmando que a atitude fere princípios democráticos e compromete o direito à informação, o documento, destaca ainda que a emissora foi excluída do grupo do WhatsApp, o canal de comunicação da Presidência angolana com a imprensa, o que limita ainda mais o acesso da RTP a informações oficiais, lê-se na nota.

Para o Secretário do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, Pedro Miguel, “Trata-se de um episódio grave”, o direito de informar e de ser informado está garantido na Constituição e deve ser respeitado. Esta expulsão, além de humilhante, mostra que há tentativas claras de controlar a narrativa política.

Para o sindicalista, a nacionalidade da emissora não pode ser usada como justificativa, “Angola tem milhares de cidadãos a residir em Portugal, a RTP África é um canal com papel relevante na divulgação dos assuntos africanos para as comunidades lusófonas, negar esse acesso é, de certo modo, silenciar parte do próprio povo angolano.”

A situação também traz implicações diplomáticas. Angola e Portugal mantêm relações históricas e uma intensa cooperação bilateral, especialmente nas áreas da comunicação, cultura e formação. A RTP, como órgão público português, tem presença relevante em Angola através da RTP África, sendo um veículo importante de ligação entre os dois países.

O jornalista sénior Regional do Silva criticou a cobertura desequilibrada por parte dos órgãos públicos angolanos, especialmente em momentos politicamente sensíveis como a audiência do líder da UNITA no Palácio da Cidade Alta. “Estamos diante de um jornalismo de conveniência, onde há um padrão de cobertura que favorece o partido no poder e marginaliza vozes dissonantes”.

Ambiente tenso para a imprensa em Angola

O episódio com a RTP é apenas o mais recente numa sequência de eventos que tem levantado dúvidas sobre o compromisso do governo angolano com a liberdade de imprensa. Nos últimos anos, jornalistas independentes têm denunciado restrições, intimidações e uma crescente centralização da comunicação institucional nas mãos do Executivo.

Embora o governo angolano tenha promovido reformas para atrair investimentos e projetar uma imagem mais democrática no exterior, especialistas alertam que a falta de transparência e o controle sobre a imprensa comprometem a credibilidade dessas reformas.

Segundo analistas políticos, a exclusão da RTP pode ainda refletir um receio do governo quanto à cobertura crítica de temas sensíveis, como a relação entre os partidos, os protestos sociais ou as denúncias de corrupção.

O caso da RTP levanta uma questão fundamental: que espaço está sendo reservado à liberdade de imprensa num país que afirma estar a consolidar a democracia? A resposta a essa pergunta será observada com atenção não apenas pelos cidadãos angolanos, mas também por organismos internacionais, parceiros diplomáticos e defensores dos direitos humanos.

A sociedade civil, os jornalistas e a comunidade internacional aguardam agora uma explicação oficial clara da Presidência da República e, mais do que isso, ações concretas que garantam o respeito pelos princípios democráticos fundamentais. A liberdade de imprensa, al

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