Não teve a mesma visibilidade mediática da bomba que foi posta a 22 de Julho de 1975 na redacção do Jornal de Angola, mas a 10 de Outubro desse mesmo ano, um outro fortíssimo ataque à bomba, claramente terrorista, ou seja, politicamente motivado, rebentou parcialmente com as instalações e os equipamentos do Centro Emissor do Mulenvos, através do qual o sinal da ainda Emissora Oficial de Angola chegava a todo o país em ondas curtas e ondas médias.
O emissor de frequência modulada que cobria Luanda não foi afectado porque estava localizado dentro do perimetro cercado dos estúdios centrais aqui na Comandante Gika onde eu já me encontrava a trabalhar, cerca de um mês depois de ter sido admitido naquela empresa.
Lamentavelmente o meu disco duro pessoal, por defeitos de fabrico, não tem qualquer memória registada desse acontecimento, como não tem de tantos outros relevantes que marcaram os primeiros tempos do meu relacionamento com a EOA/RNA.
O 10 de Outubro é assim mais uma data que entrou para a história destes 50 anos de independência com a força destruidora dos desentendimentos que marcaram o nascimento da Angola Independente.
Nessa altura, quando faltava exactamente um mês para o 11 de Novembro de 1975, o país já estava a ferro e fogo e Luanda completamente sob controlo do MPLA, pelo que a responsabilidade política por este atentado ao Centro Emissor de Mulenvos foi atribuída aos simpatizantes da FNLA.
O ataque ao Centro Emissor de Mulenvos teve a particularidade de ser feito por uma avioneta que sobrevoou o local. Há pelo menos dois suspeitos. Um angolano e um brasileiro.
Um deles, o angolano, que trabalhava no Centro confirmou muitos anos depois algures em Portugal, o seu envolvimento no ataque, mas disse que o piloto é que fez os explosivos, tendo ele apenas produzido as caixas onde as bombas foram acomodadas.
Como foi possível fazer um bombardeamento aéreo com uma tal precisão, é que ainda não percebi muito bem. Os prejuízos foram enormes, mas pelo que consegui apurar agora não houve nenhuma vítima humana ou seja, nem mortos, nem feridos. No Centro também trabalhava muito pouca gente.
Reginaldo Silva