LUANDA (O SECRETO) – Funerais diários em massa, escolas sem condições, juventudes exploradas e forçada a emigrar para sobreviver, serviços públicos colapsados, e milhões de angolanos abandonados,”nós queremos também viver com dignidade no nosso país”, disse Francisco Teixeira.
Com palavras firmes, o jovem líder trouxe à tona uma realidade crua, muitas vezes ignorada nas altas esferas de poder.
“Estamos a fazer 30 funerais por dia só no cemitério de Viana. Isso é uma estatística que deveria envergonhar qualquer governo. Não estamos a falar por raiva, estamos a falar factos”, afirmou.
Teixeira relembrou que Portugal, ainda em 1975, conseguiu erradicar a malária, enquanto Angola — com mais recursos naturais, mas com menos população — ainda sofre com doenças evitáveis, como cólera e malária, que matam os mais pobres e esquecidos.
“Não somos menos capazes, somos menos ouvidos”
No centro do discurso esteve o apelo por igualdade de oportunidades e respeito à capacidade intelectual da juventude, muitas vezes silenciada por não carregar os “sobrenomes certos” ou por não pertencer ao partido no poder.
“O que estamos a pedir é simples: que a bandeira política não fale mais alto do que a integridade de cada cidadão. Que não se prenda quem exige dignidade. Mas quando falamos, o que fazem? Prendem-nos.”
A crítica estendeu-se ao êxodo forçado de jovens angolanos, que fogem da fome, da falta de emprego e da humilhação, em busca de uma vida digna noutros países, mesmo que seja sob pontes ou em abrigos improvisados na Europa.
“Temos jovens a abandonar Angola para viver como indigentes em Portugal. Isso é um fracasso da nossa nação. Como é que isso não nos revolta?”
“Estamos a viver uma nova escravidão”
De forma corajosa, Francisco Teixeira denunciou práticas que classificou como escravidão moderna, envolvendo exploração sexual de raparigas angolanas e abusos laborais em obras geridas por interesses estrangeiros.
“Meninas estão a ser levadas do sul do país para servir como escravas sexuais em estaleiros de empresas estrangeiras. Jovens estão a carregar contentores por mil kwanzas. Isso é digno de um povo livre?”
O presidente do movimento estudantil comparou a luta atual à resistência dos heróis nacionais da independência. Para Teixeira, o sonho de um país livre ainda não se concretizou para a maioria da população.
“Zumbi dos Palmares no Brasil nem sabia ler, mas lutou contra a escravidão. E nós hoje, com acesso à informação, vamos aceitar calados? Se os nacionalistas vissem esta Angola, morreriam de vergonha.”
“Queremos escola, saúde e respeito”, escolas com quadros, carteiras, merenda e professores qualificados, hospitais com medicamentos, pessoal suficiente e dignidade no atendimento, empregos com salários justos, fim da repressão política e liberdade de expressão, Justiça social e acesso igual aos recursos do país.
“A cidade de São Paulo, no Brasil, tem mais habitantes que toda Angola. Lá conseguem se organizar, porque aqui não? Não é falta de recursos, é falta de vontade política.”
Uma geração em risco
Francisco Teixeira alertou que a sua geração está a crescer sem esperança, marcada pela miséria desde a infância, pela frustração na adolescência e, agora, por uma juventude sem futuro. “Nós não queremos morrer sem ver uma Angola justa. Esse é o nosso medo.”
O seu discurso, ovacionado por muitos e criticado por outros, revela a crescente impaciência de uma juventude que já não acredita em promessas vazias. Uma juventude que está disposta a lutar, não por cargos, mas por dignidade.
“Se por exigir escola e saúde nos prenderem, que nos prendam. Mas a história vai saber que nós lutamos pelo bem de Angola.”