24 C
Loanda

Onde o ser humano não tem espaço à Deus também não tem diz Frei Joaquim Hangalo

Mais Lidas

Frei Joaquim Hangalo, expôs um retrato cru e mais profundas da realidade social angolana mostrando a indiferença institucional e da falência ética do Estado e da Igreja frente ao sofrimento humano.

‎“Estamos a viver um elevadíssimo nível de indiferença para com o sofrimento humano”, afirmou, com voz firme, o sacerdote não popou a crítica contra  o poder político; estendeu-se com igual severidade às estruturas religiosas, especialmente à Igreja Católica, instituição da qual faz parte. “A razão de ser da Igreja é zelar pela dignidade do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus. Se a Igreja falha neste quesito, falhou a sua missão”, declarou, citando as Escrituras para lembrar o papel espiritual e social que deve reger a acção e a presença cristã na vida pública.

‎A denúncia do Frei Hangalo ganha força ao citar exemplos visíveis e próximos: apontou para a presença constante de jovens e mulheres com crianças a viverem em condições subhumanas nos arredores da Paróquia de Fátima, próximo à Cidadela Desportiva, em Luanda. “Quem quiser passar a pé, verá com os próprios olhos. Há uma senhora com um bebé misturada entre jovens viciados, completamente abandonada. E ninguém se importa. As pessoas olham e seguem como se fosse normal”, descreveu.

‎A força simbólica do cenário descrito pelo religioso é devastadora: miséria humana escancarada num país com instituições que, na teoria, existem para proteger, assistir e promover a dignidade do cidadão. Para ele, o maior problema não é apenas a existência do sofrimento, mas o facto de que tal sofrimento já não é visto como um problema. “O grande problema é isto não ser problema”, resumiu, denunciando o estado de anestesia moral que, segundo ele, se instalou na sociedade angolano.

‎Neste contexto, Frei Hangalo propõe uma reflexão que transcende a política e entra na esfera da responsabilidade ética colectiva: se a dignidade humana não é prioridade, se o sofrimento é normalizado, então também Deus está ausente. “Numa sociedade onde o ser humano não tem espaço, possivelmente, também Deus não tem espaço”, advertiu.

‎A crítica ganha ainda mais peso quando associada à forma como o Estado prioriza os seus gastos. Segundo o frei, há um contraste gritante entre a pobreza visível e a abundância de recursos direccionados à propaganda política. Citou o exemplo recente da distribuição massiva de t-shirts e bonés com a imagem do Presidente João Lourenço, questionando os meios utilizados pelos partidos políticos para financiar esse tipo de campanha, quando escolas, hospitais e programas sociais lutam com orçamentos insuficientes. “De onde tiram tanto dinheiro para imprimir bandeiras, quando há crianças a morrer de fome?”, perguntou.

‎O discurso de Frei Hangalo é, na sua essência, um clamor profético. Lança um apelo à consciência moral da nação e denuncia a desconexão entre os valores cristãos proclamados e as práticas adoptadas. Ao desafiar tanto a Igreja quanto o Estado, o frei rompe com o silêncio confortável e convida ao compromisso com a justiça social.

‎“É preciso sair da indiferença”, concluiu. Uma frase simples, mas que ecoa como um chamado urgente à acção, não apenas para os líderes políticos ou religiosos, mas para toda uma sociedade que, segundo ele, aprendeu a conviver — e até a ignorar — a dor do próximo.

 

PUBLICIDADE spot_img

Mais Artigos

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

PUBLICIDADEspot_imgspot_imgspot_imgspot_img

Últimos Artigos