LUANDA (O SECRETO) – O novo relatório Facts and Figures 2025, divulgado pela União Internacional das Telecomunicações, UIT, traça um retrato claro: apesar da expansão acelerada da conectividade global, milhões de pessoas continuam excluídas dos benefícios da era digital.
A Internet chega hoje a cerca de seis mil milhões de utilizadores três quartos da população mundial mas 2,2 mil milhões permanecem completamente offline.
O documento confirma que o avanço digital continua profundamente condicionado pelo rendimento, género e localização geográfica. Nos países de rendimento elevado, 94% da população está conectada; nos de rendimento baixo, apenas 23% têm acesso à Internet. A desigualdade repete-se entre homens e mulheres 77% dos homens utilizam a rede, contra 71% das mulheres e entre cidades e áreas rurais, onde a diferença chega a 27 pontos percentuais.
A UIT reforça que estas disparidades não são meras estatísticas: representam barreiras reais ao desenvolvimento económico, à educação e à inclusão social. Em zonas rurais, por exemplo, o acesso limitado impede milhares de estudantes de acompanhar o ensino digital e afasta pequenos negócios de mercados globais. Em regiões de baixo rendimento, a internet permanece um luxo, não um direito.
Apesar da queda dos preços medianos dos dados móveis, o custo ainda é proibitivo em cerca de 60% dos países de baixo e médio rendimento. O relatório mostra que, para muitas famílias, uma subscrição mensal representa uma fatia tão grande do orçamento doméstico que estar online se torna simplesmente insustentável. Esta realidade trava o crescimento do mercado digital e mantém milhões longe dos serviços públicos digitalizados, das plataformas de emprego e dos sistemas de pagamento electrónico.
A diferença também está nas competências. Embora a maioria dos utilizadores saiba realizar tarefas digitais básicas, competências mais complexas — como proteger dados pessoais, identificar ameaças online, resolver problemas técnicos ou criar conteúdos digitais — evoluem a um ritmo demasiado lento. Para a UIT, esta lacuna ameaça aprofundar desigualdades existentes e criar novas, numa economia cada vez mais moldada pela inteligência artificial e por tecnologias de automação.
A chegada do 5G é vista por muitos como um marco decisivo para a inovação, mas o relatório revela uma realidade bem mais desigual. Existem hoje cerca de três mil milhões de inscrições 5G, e as redes já cobrem 55% da população mundial. Porém, enquanto nos países de rendimento elevado 84% da população têm acesso à quinta geração, nos países de rendimento baixo o valor despensa para apenas 4%. A diferença, mais do que tecnológica, traduz-se em oportunidades perdidas.
Além da cobertura, o uso efectivo da tecnologia também distingue países ricos e pobres. O utilizador médio de um país desenvolvido consome quase oito vezes mais dados móveis do que alguém de um país de baixo rendimento. Isto mostra que, mesmo onde existe conectividade, a capacidade de explorar plenamente os serviços digitais continua limitada por factores económicos e técnicos. O acesso a plataformas de streaming, cursos online avançados, aplicações de saúde digital ou serviços baseados em IA continua, assim, profundamente desigual.
A UIT alerta que depender exclusivamente das redes 3G e 4G já não é suficiente num mundo onde as exigências tecnológicas aumentam a cada dia. Em muitos países, a infra-estrutura existente apenas permite um nível mínimo de conexão, incapaz de suportar videoconferências, teletrabalho ou ferramentas de educação digital realidades que se tornaram essenciais após a pandemia e que continuam a moldar a economia global.
Para alcançar aquilo que chama de conectividade “universal e significativa”, a UIT defende investimentos urgentes em infra-estrutura, políticas públicas inclusivas e programas de formação digital. Não basta ligar pessoas; é necessário garantir qualidade, preço acessível e condições que permitam transformar a ligação em oportunidade real.
O relatório concluiu que, embora o mundo esteja mais conectado do que nunca, a revolução digital ainda avança a duas velocidades. E a distância entre elas, se nada for feito, tende a aumentar.




