O ataque, direcionado à capital Teerã, também teria vitimado o sucessor imediato de Kazemi, segundo fontes do governo iraniano.
A operação, que representa uma das incursões mais ousadas da história recente da inteligência e das forças armadas israelenses, reacende temores de um confronto directo e duradouro entre as duas potências regionais. Até então, o confronto vinha se dando por meio de guerras por procuração e operações secretas em países terceiros, como Síria, Líbano e Iraque.
Kazemi, nome central no aparato de inteligência iraniano, era responsável por coordenar operações do IRGC tanto no Irã quanto no exterior, inclusive no monitoramento e repressão de dissidências internas, e no apoio a grupos aliados como o Hezbollah, no Líbano, e milícias xiitas no Iraque, a sua morte não é apenas um golpe tático para a segurança nacional do Irã, é um golpe psicológico e político, demonstrando a vulnerabilidade de figuras de alta patente mesmo em solo iraniano.
Por outro lado, a agência estatal iraniana NIN foi a primeira a noticiar os rumores sobre a morte, mas a confirmação veio horas depois por meio de um comunicado oficial da Guarda Revolucionária, com um tom do anúncio muito duro, prometendo retaliação contra Israel, com ênfase nos “centros de inteligência” que teriam participado da operação, “este crime não ficará impune”, a resposta será dada no momento e lugar adequados, com a força necessária para mostrar ao inimigo o custo da agressão”, afirmou o general Hossein Salami, comandante da IRGC.
O “controle do céu” e a nova doutrina de guerra
Em pronunciamento feito em Jerusalém, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu celebrou o sucesso da missão e fez uma revelação com peso geopolítico: segundo ele, Israel “controla temporariamente o espaço aéreo iraniano”, para analistas internacionais, se essa afirmação for verdadeira, representa uma transformação radical no equilíbrio regional, tratando-se de uma declaração que extrapola a victória pontual e sinaliza domínio tecnológico e de inteligência, com possível apoio de satélites, ciber inteligência e drones de longo alcance.
Por outra, analistas israelenses, esse “acesso ao espaço aéreo” pode envolver cooperação silenciosa com potências regionais hostis ao Irã, como Azerbaijão, e também uma expansão do programa de espionagem de Israel dentro do território iraniano, cujos detalhes permanecem em segredo.
A morte de Kazemi é apenas a mais recente de uma série de eliminações direcionadas promovidas por Israel contra figuras-chave do aparato militar iraniano, desde a última quinta-feira, 13, pelo menos cinco altos oficiais iranianos foram mortos em bombardeios e ataques com drones, todos atribuídos a Israel, esses ataques ocorrem após meses de tensão alimentada por escaramuças na fronteira com o Líbano, a guerra em Gaza e o aprofundamento da crise entre o Ocidente e Teerã quanto ao programa nuclear iraniano.
Ao atacar diretamente figuras da inteligência e não apenas alvos de infraestrutura militar, Israel envia uma mensagem clara, a guerra não é mais de bastidores, “gora é pessoal”, e atinge o núcleo de comando da República Islâmica.
Riscos de retaliação e a reação internacional
Com a promessa de vingança feita pela Guarda Revolucionária, cresce o temor de uma resposta iraniana que ultrapasse o teatro de guerra tradicional. Possibilidades vão desde ciberataques até tentativas de assassinato de autoridades israelenses no exterior ou ataques coordenados por meio de milícias aliadas no Líbano, Síria, ou até mesmo na Cisjordânia.
Nos bastidores da diplomacia internacional, países europeus, os EUA e organizações multilaterais como a ONU já manifestam preocupação.
No entanto, há apelos por “contenção estratégica” e mediação urgente para impedir um ciclo de retaliações fora de controle, mas especialistas concordam que a dinâmica atual pode se tornar autossustentável ou seja, cada ataque gera a justificativa para o próximo, em uma espiral crescente que ameaça toda a estabilidade do Oriente Médio.
De recordar que, este não é o primeiro confronto grave entre Irã e Israel, mas o assassinato de uma figura da importância de Mohammed Kazemi em plena capital iraniana abre um novo capítulo.